Quando as palavras ganham vida
Palavras descansam,
Murmuram, sussuram, sopram, envolvem-se nos cobertores
Diante do amanhecer.
Acordam, despertam…
Saudam por entre a luz que ilumina a sombra das persianas.
Uma por uma
Refletem-se no vidro
Solidificam-se, gelando todo o espaço envolvente
Acompanham a voz
Num tom rouco e quente.
Desfazem-se na boca, por vezes,
Afastando-se, isolando-se, escondendo-se…
Outras vezes, suspendem-se por entre divagações e arrependimentos.
Umas, esperam, ficam, fixam-se por entre as rochas
E perdem o autocarro
Outras, pedem boleia, correm, entrelaçam-se e soltam-se.
Algumas palavras seguem-me
Beijam-me
Faltam-me
Ou habitam em mim
Palavras que incendeiam
Sangram e afogam-se no oceano do passado.
Palavras que incendeiam
Sagram e afogam-se no oceano do passado.
Palavras que palpitam
Que apaixonam
Que vagueiam ao anoitecer
Que se embriagam
Que matam
“Apaga-me”, imploram os seus gritos mudos
“Não!” - digo eu
E o meu olhar apenas espelhou os rabiscos que as envolveram.


